TRILHA

Memória Queixadas

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História dos trabalhadores da 1ª fábrica de cimento do Brasil, que de forma organizada e justa, realizaram uma greve que durou 7 anos e tinha como princípio a não violência, contando com “Firmeza Permanente” como representação deste princípio.

"Queixada que enfrenta o tubarão"

Os Queixadas

Os queixadas foi o grupo de trabalhadores da Companhia Brasileira de Cimento Portland Perus que, em 1962, iniciou uma greve que duraria sete anos, a maior da história sindical do Brasil.

Filiados ao Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Cal Cimento e Gesso, os Queixadas lutavam pelo fim dos atrasos salariais e seus devidos reajustes, redução de jornada, melhoria das condições de trabalho, estabilidade, salário família, premiação por produção, recontratação de funcionários estáveis demitidos, etc. 

O apelido surgiu em 1958, depois da “Greve dos 46 dias”, quando os trabalhadores reivindicavam um aumento salarial, além de uma outra condição: o valor do saco de cimento não deveria sofrer aumento. Após 46 dias de paralisação, foi assinado um documento garantindo o reajuste salarial de 40%.

O Movimento dos Queixadas, como ficou conhecido, tinha como pilares o  s princípio da “não-violência-ativa”, que se popularizou entre os trabalhadores como “Firmeza Permanente”. 

Em 1969,  a justiça anunciou um  veredicto parcialmente favorável aos trabalhadores. A direção da fábrica foi obrigada a reintegrar os Queixadas estáveis (501 operários) e indenizá-los pelo tempo de paralisação. Porém, os 300 grevistas não estáveis seguiram sem emprego e indenização. 

Os Queixadas, com sua força e singularidade de organização sindical e social, permaneceram na memória do bairro de Perus. Ainda hoje, são apontados como a semente de onde brotaram muitas  lutas posteriores.

Eram operários, vindos de diversos lugares, que se fixaram em Perus para oferecer a sua força de trabalho. Portanto, estamos tratando de memórias que se entrelaçam com a nossa história e com a história do território em que vivemos. 

 

QUEM É SEBASTIÃO SILVA DE SOUZA?

 

Créditos: Thiago Consp


É o Queixada que dá nome ao CMQ. Nascido em Perus, em 1933, Seu Tião começou a trabalhar na Fábrica um ano antes da Greve. 

Fazia parte do Movimento de Reapropriação (entre outros) e adorava compartilhar suas memórias sobre Perus e, também, sobre a Greve, da qual nunca se arrependeu de ter participado.  

Faleceu em dezembro de 2019, por complicações relacionadas à senilidade, aos 86 anos. 

o longo dos anos, muitos foram os projetos para a construção de um centro de cultura no espaço da Fábrica de Cimento, tombada pelo município de São Paulo em 1992, contudo sem a justa desapropriação.

Decorridas décadas, o Movimento vem sempre empenhando esforços em defesa não só da preservação da Fábrica de Cimento, mas também da preservação da história e memória dos trabalhadores, famílias, comunidade e demais envolvidos nesta luta.

Em 2013, o Movimento pela Desapropriação e Transformação da Fábrica, foi retomado com toda força, recebendo reforços de diversos coletivos artístico-culturais do território, bem como escolas públicas, estudantes e pesquisadores de Universidades, como o Núcleo de Estudo da Paisagem, vinculado à FAU/USP.

 

MOVIMENTO DE REAPROPRIAÇÃO DA FÁBRICA DE CIMENTO

O Movimento foi renomeado como Movimento pela Reapropriação da Fábrica de Cimento de Perus, defendendo a mesma proposta de instalação de um Centro de Lazer, Cultura e Memória do Trabalhador, nas áreas tombadas pelo CONPRESP, porém,  com um novo olhar, por se tratar de outro tempo, mas tendo como premissa os princípios dos antigos Queixadas: 

 

Escola dos “Queixadas”

  • CORAGEM para enfrentar o erro do patrão, do companheiro, ou o próprio erro. Cuidado para não agir sozinho.
  • LEALDADE-HONESTIDADE. Não buscar privilégios pessoais. Nunca enganar os companheiros. Ser fiel ao companheiro. Ser sempre o mesmo homem diante da verdade.
  • JEITO, isto é; usar a ferramenta da não violência, que aperta, mas mata; que diz que o patrão pode ser um ladrão, mas é um homem como você. Se você fosse o patrão, faria o mesmo no sistema capitalista. Ou pior.
  • CONHECIMENTO. O “Queixada” precisa se aprofundar no conhecimento, não só da profissão, como também no conhecimento das questões trabalhistas, da política, para mudarmos o sistema que aprisiona os brasileiros.
  • A UNIÃO aparecerá como consequência das exigências acima. Provaremos que, “unidos, conseguimos o que está na lei e até um pouco mais; unidos podemos mudar a lei; desunidos, não conseguimos nem o que está na lei. Unidos conseguiremos a partilha dos bens e a rotatividade no poder”. Teremos uma nova sociedade.

Só a Verdade nos leva à Justiça, capaz de libertar o homem todo e todos os homens.

 

A FÁBRICA

 

No ano de 1914, foi criada a Estrada de Ferro Perus-Pirapora (EFPP). Os trilhos possibilitaram o transporte da pedra calcária extraída em Cajamar – no bairro do Gato Preto – para Perus. 

Anos mais tarde, em 1926, o calcário passou a ser utilizado como matéria-prima do cimento produzido pela Companhia de Cimento Perus Portland, inaugurada em 1924 por um grupo canadense bastante experiente no setor.

A indústria atraiu muitas pessoas para a região, alavancando o crescimento de Perus. Junto com o bairro, crescia também a produção da fábrica, que em 1927 chegou a produzir 25 mil toneladas de cimento. 

Em 1958, assessorados pelo Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Cal Cimento e Gesso, os trabalhadores da fábrica iniciaram uma greve de 46 dias. Alguns anos mais tarde, em 1962, os Queixadas de Perus, junto a outros sindicatos (alimentação, têxtil, papel e papelão) participaram ativamente da Greve dos 7 anos. 

Na década de 1970, a “Perus”, como era chamada a fábrica, teve seus bens confiscados pelo Governo Federal, após intervenção do Sindicato dos Queixadas. O confisco durou até 1977. Em 75, foram pagos os salários do tempo da greve, correspondente a 2448 dias.

Na década seguinte, a luta em Perus era pela saúde da população. A frase “O pó de cimento esmaga a vida” aparecia em cartazes pregados em portas e em passeatas. Em 1986, a fábrica foi fechada definitivamente e, desde então existe uma luta por esse espaço de memória operária.

Fonte: Informações retiradas, na íntegra, diretamente do site do Centro de Memórias Queixadas

Local de visitação: Antiga Fábrica de Cimento Portland Perus

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